Século XVII
Ocorrem
os primeiros movimentos escravos de fuga e rebeldia. Citam-se (sem muito rigor)
relatos sobre as campanhas contra o quilombo de Palmares, na Serra da Barriga
(ao sul de Pernambuco, no atual Estado de Alagoas), em que se fazia referência
ao modo muito peculiar de lutar dos negros aquilombados, nos confrontos
corpo-a-corpo com os invasores brancos. 1630: No topo da majestosa Serra da Barriga, eram já três aldeias muito bem organizadas. Os moradores as chamavam Angola Janga, que no idioma quimbundo significa "Angola Pequena".
1654: Com a
expulsão definitiva dos holandeses, o "grande inimigo externo", todas
as forças da sociedade colonial brasileira se voltaram contra o temível
"inimigo de portas adentro", os negros palmarinos. A partir de então,
quase não houve um ano em que não partisse contra eles alguma expedição, vinda
de Recife, Porto Calvo, Penedo ou Alagoas. Em geral, eram de iniciativa das
autoridades, mas os recursos partiam dos senhores de engenho.
Engenho retratado por Rugendas.
1655: Em algum
ponto dos Palmares, nasceu livre a criatura que chamamos Zumbi. Neste ano, um
certo Brás da Rocha atacou Palmares e carregou, entre presas adultas, um
recém-nascido. Entregou-o ao chefe de uma coluna, e este decidiu presenteá-lo
ao cura de Porto Calvo. Padre Melo resolveu chamar o negrinho de Francisco.
O menino cresceu junto ao padre, que lhe ensinou português, latim e religião.
Numa noite de 1670, ao completar quinze anos, Francisco fugiu.
1670: Zumbi,
como agora se chamava o jovem Francisco, chega a Palmares, que, naquela época,
eram já dezenas de povoados, cobrindo mais de seis mil quilômetros quadrados.
Ganga Zumba, que significa "Grande Chefe", reinava sobre todos eles.1672: Zumbi assume o posto de chefe da aldeia mais próxima de Porto Calvo.
1677: O comando
geral do exército negro cabia já a Zumbi, promovido de simples chefe de aldeia,
após uma série de derrotas humilhantes de Ganga Zumba diante dos soldados de
Fernão Carrilho.
1678: Ganga
Zumba entra em Recife para ratificar um acordo de paz com o governo. Zumbi,
acompanhado dos chefes de mocambo descontentes, marchou contra a aldeia de
Macaco, a capital de Palmares, onde se encontrava Ganga Zumba. Este fugiu, com
pouco mais de trezentos fiéis, para Cucaú, no sul de Pernambuco, onde o governo
colonial lhe reservara terras para viver e cultivar. Entretanto, a paz firmada
entre Ganga Zumba e o governador D. Pedro de Almeida não durou dois anos.
1680: Ganga
Zumba morre envenenado por adeptos de Zumbi que se infiltraram no Cucaú. O
governador de Pernambuco socorreu-o tarde demais, apenas a tempo de executar
sumariamente os conspiradores João Mulato, Canhongo e Gaspar. Os sobreviventes
da triste experiência da secessão de Palmares foram reescravizados. Durante os
quinze anos seguintes, travou-se a guerra total na Zona da Mata, entre Zumbi e
o mundo dos senhores de engenho. Cada golpe provocava outro, do lado contrário.
1687: Neste
ano, Zumbi fartou-se de derrotar tropas colonialistas, regulares ou não.
Invadiu São Miguel, Penedo e Alagoas. Humilhado, o mundo do açúcar resolveu
então contratar Domingos Jorge Velho, o caçador de índios, para lutar contra os
quilombos.
1693: Foi um
ano terrível: com a queda absoluta do preço do açúcar, o ouro da colônia
desapareceu quase que completamente, e a inflação explodiu. A seca e a fome,
que já penalizavam o sertão, invadiram as cidades. A plebe, os pobres-diabos
que viviam imprensados entre a grande fazenda e o governo (únicas fontes de
trabalho), ficaram a pão e água. A raiva e o desespero tomaram conta das ruas
do Recife. O governo colonial, preparando-se para uma cruzada definitiva contra
o Estado quilombola, explorou então a frustração e a inveja da plebe urbana
maltrapilha e faminta: prometeu mundos e fundos a quem participasse da
expedição contra os quilombos; esvaziou os presídios, indultando os fora-da-lei;
convocou militares vadios da Bahia, da Paraíba e do Rio Grande do Norte. A
todos, a propaganda de guerra fez crer que a origem dos males brasileiros era a
pátria dos negros.
1694: Em
janeiro, uma tropa de nove mil homens se pôs lentamente em marcha, sob o
comando de Domingos Jorge Velho, em direção à serra da Barriga. Só na guerra da
independência, 130 anos mais tarde, é que se viu um exército maior.
Desenho de Debret que mostra a luta na selva.
Várias
tentativas foram feitas pelos invasores para destruir a fortaleza de Palmares,
todas elas fracassadas, até que, na madrugada de 6 de fevereiro, conseguiram
finalmente romper a paliçada a golpes de canhão e penetrarem o reduto dos
palmarinos. Em sua fúria, a multidão de índios, mamelucos e soldados não deixou
nada de pé ou inteiro.
Na beira do
abismo, do lado ocidental da fortificação, restou uma passagem que o inimigo
não teve tempo de fechar. Por ali saiu um grupo grande de guerreiros, dispostos
a recomeçarem a guerra depois, quando se recompusessem. Quando passavam os
últimos, rolaram pedras, e os mamelucos abriram fogo sobre eles. Na confusão
que se seguiu, perto de duzentos guerreiros palmarinos despencaram no abismo.
Por muito
tempo, acreditou-se que Zumbi, num impressionante gesto de orgulho,
precipitara-se do alto da serra. Até recentemente, essa era a lenda. "Por
que se acreditou tanto tempo nessa mentira? (...) Uma coisa é certa: a legenda
do herói étnico que prefere a morte ao cativeiro fascina nossas mentes, charme
indiscutível do 'último dos moicanos'."
Zumbi foi um
dos últimos a sair, postado na retaguarda da coluna de guerrilheiros que deixou
Palmares na madrugada de 6 de fevereiro de 1694. Escapou com vida. Depois,
dividiu seus homens (cerca de mil) em bandos, e voltou à guerrilha.
1695: Zumbi é
morto em uma emboscada. O chefe de um de seus bandos, Antônio Soares, fora
emboscado e preso, passando a cooperar com as forças coloniais em troca da vida
e da liberdade.
"Zumbi
confiava em Soares, e quando este lhe meteu a faca na barriga se preparava para
um abraço. Seus olhos devem ter brilhado, então, de estupor e desalento. Seis
guerrilheiros apenas estavam com ele naquele momento - cinco foram mortos
imediatamente pela fuzilaria que irrompeu dos matos em volta. Zumbi,
sozinho, matou um e feriu vários. Foi isso nas brenhas da serra Dois Irmãos,
por volta de cinco horas da manhã de 20 de novembro de 1695."
O
excelente livreto Zumbi, de Joel Rufino dos Santos - São Paulo: Ed.
Moderna, 1985, serviu de base ao texto sobre Palmares.
1696: São
descobertos os primeiros veios auríferos. Começa no Brasil a atividade da
mineração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário