quinta-feira, 5 de abril de 2012

A Musica na Capoeira

Música
A música desempenha na Capoeira um papel fundamental:
o ritmo do jogo é determinado pelo ritmo da música.


OS TOQUES DE BERIMBAU:
           Na prática da capoeira, à semelhança dos cultos do candomblé, o ritmo e o toque da orquestra é que regem o ritmo e o tipo de jogo. Assim, adquirem papel de primordial importância as características dos diferentes toques executados.
          “Os mais lentos, calmos, são os preferidos pelos ‘angoleiros’, mais apegados às tradições africanas e aos aspectos lúdicos da capoeira, considerada principalmente como um jogo de habilidades, coreografia e técnica, enquanto os ‘regionais’ são mais afeitos aos toques mais rápidos, que acentuam a belicosidade inerente ao conceito de luta, objetivo final desta última modalidade."
(Mestre Decanio)
Da mesma forma que em relação aos golpes, há divergências quanto aos nomes de origem dos toques; mestre Bola Sete, em seu livro A Capoeira Angola na Bahia, nos diz que "os toques básicos são em número de sete, facilmente identificáveis..." Os demais teriam sido criados por alguns mestres, utilizando-se de variações e repiques dos sete toques fundamentais, que são:
          Angola, São Bento, Santa Maria, Amazonas, Idalina, Benguela e Iuna.
          Além disso, os toques de Angola e São Bento podem variar, e se desdobrar em Angola Pequena e São Bento Pequeno, Angola Dobrada e São Bento Grande.
          "Na verdade, são os mesmos toques, só que nos dois primeiros (Angola Pequena e São Bento Pequeno) omite-se a quinta batida da baqueta, substituída por uma pancada bem sutil no arame, abaixo do barbante que liga a cabaça à verga, balançando simultaneamente o caxixi... São utilizados para o acompanhamento dos cânticos, das ladainhas ou dos corridos, quando os dois capoeiristas vão jogar lentamente, enquanto os dois últimos são usados exclusivamente para o acompanhamento dos cânticos corridos, quando o andamento do jogo pode ser moderado ou mais rápido.
 TOQUES E JOGOS:
          Santa Maria: utilizado para a execução de um jogo bastante técnico, em que os capoeiristas exibem toda a sua habilidade.
          Amazonas: jogo fechado, próximo do adversário; predomina a malícia.
          Idalina: jogo mais aberto e solto, indicado para a aprimoração dos golpes.
          Benguela: jogo em que os capoeiristas demonstram a sua capacidade para livrar-se de um ataque a mão armada.
          Iuna: jogo de movimentos lentos e rasteiros, sem o acompanhamento dos cânticos; é um toque de rituais, e exige perfeita coordenação dos movimentos, somente adquirida depois de muitos anos de prática da capoeira. Jogo para formados, mestres e contramestres.
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           Mestre Bola Sete expõe em seu livro (Capoeira Angola da Bahia, Pallas, Rio de Janeiro, 1997) uma curiosa grafia para descrever os vários toques:
Obs.: tim = som agudo, com a moeda presa;
         tich = som abafado, com a moeda folgada;
         tom = som grave, com a moeda solta.
Angola:          tich... tich
                   tom
                   tim (tim)
____________________________
  São Bento:   tich... tich... tim
                    tom (tom)
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Santa Maria: tich... tich
                   tom
                   tim
                   tom
____________________________
Amazonas:   tich... tich
                   tom... tom
                   tim
____________________________
Idalina:          tich... tich... tim...
                   tich...
                   tom
____________________________
Benguela:    tich... tich... tim
                   tom
                   tim
____________________________
Iuna:           tom... tom... tom... tom... tom
                   tich... tich... tich...
                   tich... tich...
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           Há ainda outros toques, como o de Apanha Laranja no chão Tico-Tico, antigamente muito utilizado nas festas de Santa Bárbara, na Baixa dos Sapateiros. Os capoeiras jogavam tentando apanhar com a boca um lenço branco (ou uma nota de dinheiro) previamente jogado no meio da roda; ou o toque de Barravento, apropriado para um jogo em ritmo acelerado; o toque de Cavalaria, que antigamente era usado para avisar os capoeiras da aproximação do batalhão de cavalaria da Guarda Nacional; o de Samba de Angola, tocado quando se dança o samba-de-roda ou o samba-duro; ...

AS CANTIGAS DE CAPOEIRA:
          De acordo com Waldeloir Rego, "as cantigas de capoeira fornecem valiosos elementos para o estudo da vida brasileira, em suas várias manifestações, os quais podem ser examinados sob o ponto de vista lingüístico, folclórico, etnográfico e socio-histórico".
          Ainda segundo Waldeloir, não podemos estabelecer nenhum marco divisório entre cantigas de capoeira antigas e atuais, pois muitas das cantigas consideradas atuais são - ou incluem em suas letras - quadras antiqüíssimas, que remontam aos primórdios da colonização. São quadras (estrofes de quatro versos) que relatam passagens da Donzela Teodora, Decamerão, Princesa Magalona, Imperatriz Porcina, Carlos Magno e os Doze Pares de França, João de Calais, cenas da vida patriarcal brasileira e outros variados motivos. Também as cantigas consideradas antigas, na maior parte, não o são. Na verdade, são quadras de desafios, cantigas de roda infantis ou de samba de roda, cujos autores viveram até bem pouco.
          Em geral, a cantiga de capoeira pode ser o enaltecimento de um capoeirista que se tornou herói pelas bravuras que praticou em vida, ou então o relato de "fatos da vida cotidiana, usos, costumes, episódios históricos, a vida e a sociedade na época da colonização, o negro livre e o escravo na senzala, na praça e na comunidade social. Sua atuação na religião, no folclore e na tradição. Louvam-se os mestres de capoeira e evocam-se as terras de África de onde procederam". É importante notar também que as cantigas transmitem ensinamentos, conselhos de prudência, a sabedoria que constitui a filosofia da capoeira.

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